terça-feira, 31 de janeiro de 2012

2ª Parte

   Guardei meu pé de coelho no bolso direito da calça e fui procurar pelos meu amigos, corri e nunca me cansava, gritei por eles e  então os encontrei eles me esperavam para brincarmos de bola, quando cheguei as brincadeiras começaram, alguém torcia por mim e eram meus pais eles sorriam um para o outro felizes por me verem brincar. Quando a bola caía muito longe eu saia correndo para busca-la, ninguém era mais rápido que eu, e voltávamos a brincar de novo. Brincamos de pique-esconde, de pega-pega, viramos estrelinhas, contamos estrelas, e depois encontramos uma caixa cheia de sorvete de morango e tomamos todo o sorvete que havia nela. Depois fomos correr pelo bairro e as casas eram todas coloridas, e quando ficamos com sede encontramos um chafariz de refrigerante e bebemos até enjoar, o dia estava perfeito e nunca anoitecia. Decidi deixar meus amigos descansarem e fui me deitar na grama com meus pais, segurávamos as mãos uns dos outros com bastante força, nós estávamos muito felizes e não queríamos nos separar nunca mais. Dormimos e quando acordei o Sol ainda brilhava lá do lado de fora, mas não encontrei meu pé de coelho e estava de pijamas.
Agarrei meu diário e comecei a escrever tudo, tim-tim por tim-tim, tudo tinha que estar alí no meu diário, mas este sonho teria que ser editado quando fosse contar ao meu pai, só contaria sem cortes quando estivéssemos sozinhos eu e minha mãe ou eu e meu pai. De maneira alguma queria pressioná-los tudo teria que seguir um fluxo natural como sempre foi. Tudo estava bom como era, poderia com certeza melhorar, mas não havia motivos para lamentações ou lágrimas, Deus já me dera uma felicidade que compensaria uma vida inteira caminhando, e era grato por isso. Duas batidas na porta depois e minha mãe já me levava para tomar meu banho, depois meu café da manha, uma mão me alimentava e a outra passava o meu sonho a limpo para o diário. Ia escrevendo no ônibus até chegar a escola.
"Hora de estudar é hora de estudar" minha mãe me disse numa das vezes que teve de ir buscar meu diário com a diretora. Tudo certo na escola, eu sempre gostei mais das aulas de geografia, eu sempre ia para os lugares novos que a professoras nos ensinava, meus amigos me agradeceriam se soubessem para os lugares onde ja os tinha levado em meus sonhos. Mas tinha de ser segredo, não havia motivo maior aparente para que eu escondesse além de temer que eles ficassem com pena de mim, mas eu pensava nisso com um super poder que eu não poderia revelar a ninguém, era mais fácil encarar assim.
No intervalo meus amigos me perguntaram o que eu faria se um dia pudesse andar, e eu disse que até o baile de formatura eu estaria andando e convidaria, Ashley a menina mais linda da escola para ir ao baile comigo e dançaríamos a noite toda juntos. Eles também começaram a dizer o que iriam fazer no baile, Joe disse que comeria todos os doces possíveis, Bryan seria o rei do baile, e Alice riria de todos na noite do baile, ela achava tudo isso muito brega. Ashley era a menina mais linda de todo o colégio, mas nunca falou comigo, talvez quando eu andasse eu tomasse a iniciativa e a chamaria pra tomar um sorvete, é e estava decidido eu a convidaria para tomar sorvete e depois a convidaria para o baile.
Cheguei em casa e no jantar abordei um assunto pesado que provavelmente não me daria sonhos tão bons esta noite, mas era preciso. Perguntei a minha mãe como andava o processo que me usaria como cobaia para testar novas tecnologias que poderiam me fazer andar. Ela não gostava do assunto pois não era tão otimista quanto eu, mas para que eu ficasse feliz ela sempre dizia que tudo estava se encaminhando. Eu tinha de ter muito jogo de cintura, que ironia, porque eu precisaria de sua autorização para que pudessem me ajudar a andar. Ela falou comigo pacientemente sobre o assunto enquanto comíamos, a sobremesa foi em dobro, isso costumava um dia depois que meu pai havia passado por ali.
Fui pra cama, ganhei o meu beijo de boa noite e mais rápido do que imaginei estava com o meu pé de coelho nas mãos. Lá longe avistei a silhueta de uma menina magra e cabelos longos que brilhavam como ouro á luz do Sol. Corri como sempre fazia em meus sonhos até ela, até Ashley que só não era tão mais linda porque não tinha cheiro. Andamos por uma pista sem fim e nunca anoitecia, de mãos dadas e as vezes nos olhávamos. Andamos e andamos, foi só com isso que sonhei, não dizíamos uma só palavra, caminhar sem destino era nosso foco, estar ao lado um do outro era o que nos motivava.
Duas batidas na porta depois e minha mãe estava em meu quarto, ela estranhou que eu ainda estivesse dormindo quando entrou, eu sempre estava escrevendo quando ela entrava. Mas isso eu preferi guardar em outro lugar, guardei em meu coração onde colecionava sonhos com a menina mais linda do colégio. Ela insinuou algo com estar sonhando com meninas mas não respondi, e isso só confirmou o que ela havia insinuado. Minha mãe era muito inteligente, e a mãe mais linda do mundo.
Tomei meu café como sempre, e fui pra escola esperando vê-la logo na entrada e assim aconteceu, ela estava na porta da escola conversando com sua amigas, passei por elas e disse um oi desajeitado, e ela me respondeu. Fiquei em choque, e se andasse teria paralisado,  sorte que eram rodas e não pernas naquele momento. Meu sonho fez mais sentido depois que ela respondeu ao meu "oi", é como se tivesse acontecido mesmo e fosse o nosso segredo. Ashley era o meu segredo, pelo menos eu achava que sim.

[Continua...]


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